quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O Zen.

Neste presente artigo se faz uma exposição sobre o fenômeno da popularização da palavra “Zen” e esclarecer sobre o seu significado e o que realmente ele é.
Toda vez que ouvimos as expressões populares sobre o Zen as tornam adjetivos pessoais. Como exemplos: “Fulano é zen”; “hoje meu marido está zen”. O zen desta forma se tornou um adjetivo de tranqüilidade, embora a palavra tem uma relação com este estado mental, mas que não está submetido aos fatores externos. A origem da palavra Zen, ligada ao Budismo, pois faz parte dos ensinamentos do Buddha, vem de Zen-na, de origem japonesa, em virtude da chegada do budismo no Japão, pois a Escola que havia entrado se chamava de Ch’ an, de Ch’an-na, de origem chinesa, esta expressão era oriunda da palavra sânscrita Dhyana, que sugnificava “Concentração Tranqüila”, uma ferramenta exposta pelo Buddha Shakyamuni (Siddartha Gautama), ao passar um ensinamento silencioso, do qual ele levantou uma flor com a mão e a sustentou, seus discípulos não compreenderam este ensino, apenas Mahakashyapa o compreendeu e expôs o ensino compreendido.
Sendo assim, o Dhyana (Zen) é um ensino que expõe a vacuidade (Sunyata) em todos fenômenos da Vida, o comportamento da mente, a observação da Gênese Condicionada e a aplicação de uma concentração tranqüila nas tarefas cotidianas , tal método é desprezado e escarnecido pelos homens ocidentais contemporâneos (bárbaros). Desta forma o Dhyana é parte da vida cotidiana, ou seja, estarmos presentes de forma fluídica, contínua e tranqüila, concentrados e atentos a fim de controlarmos os nossos instintos e seguirmos os nossos dharmas e, juntamente a este método, respondermos as perguntas de nossos pequenos mistérios: Quem somos? De onde viemos? Para aonde vamos? Cada homem e mulher deste planeta responderão para si mesmos a estas perguntas e realizar sua jornada . A popularização do Zen (Dhyana) se deu em virtude do I Parlamento das Grandes Religiões, em Chicago no ano de 1893, do qual a única Escola budista que aceitou o convite foi a Escola japonesa Rinzai (uma escola zen) , embora a chegada do Budismo em terras ocidentais se deu nos meados do Séc. XIX, ocorrendo conversões de proeminentes figuras da sociedade estadunidense, como o militar e jornalista Henry Steel Olcott, co-fundador da Sociedade Teosofica em New York .
Voltemos as nossas atenções ao I Parlamento de 1893, sendo a Escola Rinzai a se promover, apesar de não ter apoio institucional, além de serem sobrepujados pela presença do Swami Vivekananda (hinduísta), cuja presença era ansiosamente esperada, conseguiram lançar suas sementes em terras ocidentais, pois até hoje a escola budista mais conhecida pelos ocidentais é o Zen (Dhyana). Tanto de forma mítica, como filosófica, passando pelas formas artísticas da Literatura (caligrafia, Haicai – poemas naturalistas,que valoriza a concisão e a objetividade -, Koans – contos paradoxais) e das artes plásticas (Sumi-ê – desenhos paisagísticos ou natureza morta, que refletem a calma e a reflexão, feitas em tinta nanquim).
Sendo assim, o Dhyana ou o Zen é um método exposto pelo Buddha Shakyamuni, que utiliza a meditação Samartha, a fim de conduzir as mentes humanas à tranqüilidade e conseqüente concentração e auto-conhecimento. E não é um termo vulgar que adjetiva as pessoas tranqüilas e focadas .

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Apreciação Literária: A Arte de Passear de Karl Gottlob Schelle.

Uma apreciação literária sobre a obra de Karl Gottlob Schelle: A Arte de Passear – um clássico do Séc. XIX.
Karl Gottlob Schelle, nascido em Altweilen, no ano de 1777, foi um filosofo alemão, que reivindicou uma filosofia menos especulativa e mais prática. Ele se afirmava como um filosofo do senso comum. Schelle escreveu a sua obra “A Arte de Passear” em 1802, e o dirigia para uma determinada classe – a burguesia. Para este filosofo, o passeio se inscreve em uma arte de viver, cujo desfecho era o prazer divino de apreciar as caminhadas e os cenários que compunham o passeio, trariam, desta forma, um momento de comunhão com a natureza, que a classe supracitada precisava apreciar.
Nesta obra o autor aborda os diferentes passeios em diferentes lugares, horas e Estações do ano dando-nos as dicas do que devemos e não devemos fazer Porém, o autor nos alerta para o perigo dos assaltos, em que ele afirma incisivamente que este risco é quase inevitável. Mas que não devemos deixar de praticar esta arte. O autor faz suas distinções sobre o passear e o Passear (flanar) e que não são todas as pessoas que sabem apreciar o passeio, pois estas estão cansadas demais, em virtude de suas tarefas diárias, ou estão absortas em seus instintos primitivos ou estão preocupadas em chegar o mais rápido aos seus destinos. Segundo Lao Tse, fundador do Taoísmo: “Mais importante que o destino a ser alcançado é a viagem a ser realizada”. O homem contemporâneo, em sua arrogância e ilusão, não sabe apreciar os seus passeios. A obra, “A Arte de Passear”, aborda esta tema no intuito de auxiliar os homens na execução dos seus Divinos Ócios e amenizando as dores de suas existências.
Esta obra nos traz a consciência que flanar é aproveitar o momento e a comunhão com a Natureza. Schelle nos alerta sobre como devemos flanar, ou seja, passear despreocupados, apreciando os cenários que a Natureza nos proporciona, nos harmonizando com ela, com nossos corpos e mentes, caminhar sem pressa, em um ritmo confortável que nos inspira uma elevação espiritual. Sendo o prazer uma conseqüência deste ato. Porém, o filósofo ressalta que em cada ambiente (litorais, montanhas, estradas, alamedas e bosques) são diferentes as formas de passear. Pois, passear no bosque não é o mesmo que passear nas montanhas ou nos litorais. Cada ambiente é diferente, assim como as Estações do ano, abordadas na obra de Schelle, em que ele cita suas características e suas forma de apreciá-las durante os passeios. Portanto, este clássico oitocentista, em que nos fala sobre e como de forma filosófica, pois a Filosofia é prática ao contrário do que se propaga sobre a filosofia: “é uma forma de pensar especulativa e que não teria um fim prático em si mesma”, segundo Witttgenstein.

sábado, 16 de novembro de 2013

Kung-an (Koan) – Lições sobre o bambu.

Este Kung-an nos mostra a importância de não sermos imediatistas, observarmos os processos e contemplarmos a verdadeira natureza dos fenômenos.
Uma adolescente angustiada e um grande negociante imediatista foram ao templo para tirar suas dúvidas com algum monge Ch an (zen). Ao chegarem, encontraram uma monja que realizava o plantio de bambus em um canteiro do templo. Depois de cumprimentarem a monja. Fizeram Suas respectivas perguntas: Adolescente angustiada – Mestra, uma terrivel dúvida paira em meu coração. Por que preciso estudar? O mundo não parece valorizar isto e o que importa para as pessoas é o lucro imediato. Mestra, com respeito não sei por que devo ter paciência para ter sucesso? Negociante imediatista – Mestra, Com relação a pergunta da jovem tenho a mesma dúvida, já que sou comerciante. Por trabalhar com comércio e prestação de serviços necessito de lucro rápido e imediato, pois contas a pagar e uma famíla para sustentar. Quando vou realizar um empreendimento, que acredito que vair dar certo e o lucro será imediato, ocorre que se torna um processo, do qual não desejo que haja. Mestra, com respeito não sei por que devo ter paciência para ter sucesso.
A monja olhou para os dois inquiridores, respirou profundo olhando para os bambus e para os brotos de bambus. Neste momento, ela teve um insight e voltou o rosto para os dois com um sorriso nos lábios, lhes respondeu: Monja- O Dharma esta contido em todas as coisas. O Dharma esta na virtude da paciência e no contemplar a verdadeira natureza das coisas. Observem estes bambus. Os bambus grandes demoram para crescer. Não é verdade? Ambos os consulentes responderam que sim. E perguntaram: Consulentes – Mas mestra o que isto tem haver com nossa pergunta? Ela responde: Monja – O bambu que é semeado no solo, lança primeiro suas raízes, porém isto leva uns cinco anos, ou seja, cinco anos se enraizando no solo para ficar bem firme, enquanto ele é um brotinho minusculo, quase insignificante. Após este período ele cresce, só que bem mais rápido. Observem nobres discípulos. Primeiro ele se enraizou por um longo tempo para depois se desenvolver. E quando já maduro ele é flexível, mais do que o carvalho, pois nenhum vento o derruba, e este é o segredo da durabilidade do bambu. E esta é a lição que os bambus deixam para nós, tudo tem seu tempo e precisamos contemplar a verdadeira natureza dos fenômenos para não cairmos nas ilusões e sofrermos com isso. A jovem e o negociante agradeceram o ensinamento e partiram sorrindo.
Extraído e adaptado de um dialogo trava do entre o autor e um padrinho de casamento. Um diálogo sobre a vivencia dos processos na vida intima e diária.

Kung-an – Entre a colina e a montanha.

Este Kung-an nos mostra sobre o apego a ilusão de ganhos e perdas e ao medo que nos acompanha, mostrando o vazio em todos os ciclos de nossas vidas.
Um comerciante foi à um monge Chan (zen) para se aconselhar sobre um empreendimento que desejava fazer, pois estava com dúvidas sobre o resultado deste empreendimento, observava os lucros e as perdas, porém ele se concentrava no medo das perdas. Ao encontrar com o monge, que estava meditando em frente a uma colina e a uma montanha. O homem chegou até ele e pediu sua licença, o monge terminou a meditação, o comerciante o cumprimentou com reverência e lhe dirigiu a palavra: - Mestre! Tenho uma dúvida. Tenho desejo de progredir em meus negócios mas a atualidade me mostra imensas dificuldades que podem me levar à ruína. O que devo fazer?
O monge ouviu a pergunta, pensou com o olhar na paisagem que se apresentava, a colina e a montanha que compunham a paisagem. Então com este contexto o monge teve um insight e sorrindo disse ao homem: - Para se tornar o rei da montanha deve descer da colina aonde tu resides, porém, nunca sabemos o que nos aguarda lá em baixo, nos vales. Mas para alcançar o cume desta montanha deves então realizar esta jornada. Ascensão, apoteose e queda são fenômenos da vida em que todos estamos expostos. O Buddha uma vez disse "a decadência é para todos", mas nada é para sempre quando uma criança caí, o que resta é se levantar. Portanto, bom homem realize esta viagem contemplando o vazio (Sunyata) nestes fenômenos.
Então o comerciante ao ouvir as palavras do monge refletiu, sorriu e agradeceu ao sábio pelo conselho com a certezade que a vida é movimento e assim se imbuíu de coragem e partiu. Este Kung-an foi escrito e adaptado de um diálogo ocorrido entre o autor e um ilustre senhor nipônico sobre os fenômenos da movimentação e o conforto que nos leva a inércia.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A questão dos benefícios no Budismo.

Em resposta aos que perguntaram sobre quais são os benefícios no Budismo ou o que a prática nesta fé pode trazer.
A fim de esclarecer aos consulentes sobre o Dharma e a prática para alcançá-lo, ou seja, o que significa o conceito de benefício e quais são os verdadeiros benefícios das práticas no Budismo. Benefícios significam méritos coletados de ações (Karma) positivas desfrutadas pelos homens em uma ou várias vidas. Porém os homens contemporâneos os confundem com a aquisição de bens materiais (posses), a satisfação dos sentidos (prazeres sensoriais, momentâneos e exagerados), o despertar dos poderes paranormais e sobrenaturais (magia ou pequenas virtudes), cura de doenças ou efeitos físicos ou a eminência da morte, o que gera como conseqüências o apego à vida e o medo da morte.
Os benefícios relacionados às práticas expostas pelos ensinamentos do Budha Shakyamuni são o autoconhecimento, a compaixão e o despertar das seis virtudes (paramitas) – generosidade, moralidade, sabedoria prajna, paciência, diligência e concentração - e compreensão, contemplação e plena atenção aos fenômenos (internos e externos). Sendo assim, os legados mais importantes deixado pelo Buddha foram a moralidade e a sabedoria, como caminhos para a plenitude da vida e como comunhão com a essência mais sagrada da vida. Assim como fez Jesus Christos que se empenhou em ensinar os homens de sua época e de seu país, os caminhos da moralidade e do respeito, através das contemplações metafísicas das práticas dos Essênios e das austeridades estóicas .
Porém, os homens comuns se atentam para as virtudes menores, ou seja, os poderes psíquicos e mágicos e os resultados de curto prazo ligados aos valores materiais e aos sentimentos desnecessários, assim como, a valorização da avareza, da vaidade, da quantidade e do desdém aos demais. Características, estas, defendidas e vociferadas pelos adeptos da Teologia da Prosperidade e do Budismo de Resultados, como valores para “a satisfação e a glória pessoais” e sinais de “bênçãos” e “salvações”. Mas o papel fundamental dos ensinos expostos pelos avatares eram a plenitude da vida, a temporaneidade (impermanência) e as ferramentas importantes para atingirmos/despertarmos as nossas sabedorias e as comunhões com o Dharma contido em nossas essências e em nosso caráter.
Pois como o Buddha havia exposto, aqueles que controlam seus desejos e as suas mentes alcançam as suas verdadeiras auto-realições, diminui as dores e as amarras de suas Rodas de Sansara . Desta forma os ensinos expostos têm o objetivo de religar os homens aos seus lados mais sagrados e a viverem livres de desejos, das ilusões e dos apegos. Mas que os homens comuns, a plebe, a fim de manter seu apego às ilusões, as paixões intensas e aos valores efêmeros, desprezam esta proposta e buscam a anistia, através da retórica vazia e de uma atitude momentânea e teatralizada, uma falsa moral, da qual ele exige do outro, porém se atenta para a “espetacularização da fé”, gerando assim desonestidade intelectual e social e, conseqüentemente, aprofundando suas amarras kármicas .