terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Fantasmas na história

Uma análise histórica sobre a crença em fantasmas no período medieval da europa. com base na obra de jean-claude schmitt que trata sobre as relações entre os vivos e os mortos daquele período.


A morte e os mortos constituem universalmente uma parte importante das crenças religiosas e do imaginário social sobre este tema, embora cada sociedade tenha a sua representação própria do além e daqueles que se foram, ou seja, o destino que os aguarda, que sempre povoou as mentalidades dos homens de antanho.

Estas aparições fantasmagóricas concebem uma interpretação sobre as viagens do mundo dos mortos e suas visitas ao mundo dos vivos, que normalmente, os vivos que os vê são antigos conhecidos ainda em vida. O objetivo deste é revelar aos vivos a geografia dos lugares do mundo dos mortos, lugares estes que habitavam o imaginário medieval do Ocidente.Com os relatos sobre fantasmas o historiador é de pronto imerso nos detalhes deste imaginário cristão da Idade Média, trava-se analises com os cruzamentos confusos de caminhos de relações sociais tomadas entre os viventes e os recém mortos que os visitam. Estes relatos de fantasmas focalizam toda a atenção na condição do, então, falecido, que descreve aos viventes a sua situação, muitas vezes, nestas crônicas a existência do fantasma ou espíritos se dá em virtude do decurso do “rito de passagem”, ou seja, a aplicação ou não dos ritos fúnebres. Pode ser citado como exemplo um corpo desaparecido de um afogado que não ganhou sepultura, vítimas de assassinato, suicidas, morte de uma parturiente ou mesmo um natimorto.Pode ser observado desta forma uma herança, ou o peso desta, na sociedade medieval que encontra as reminiscências culturais greco-romanas ou heranças dos bárbaros. Visto que o Cristianismo rejeitou em um primeiro momento o culto dos mortos, como é apresentado em toda a iconografia sobre a Idade Média e suas mentalidades, que permeou muitas épocas. Nos Sécs. V e VI muitos dos rituais pagãos foram cristianizados tendo desta forma uma espécie de “morte domesticada”. Em outras palavras pode se observar que o modus vivendi do homem medieval estava articulado nesta dinâmica entre a idéia de salvação, sufrágio, dos mortos e os seus laços com os vivos de uma sociedade que vivenciava o visível e o invisível com intensidade e normalidade.


Muitas vezes as aparições se davam para transformar a Igreja Católica e legitimar um processo político em andamento, assim como relatava o mundo dos mortos e sua atual situação ou até mesmo anunciar uma morte ou transformação social.

Sendo assim pode ser afirmado que “vivemos em prol dos mortos mais do que dos vivos” e que desta forma as reminiscências de outrora transpassam o tempo e influenciam o agora, principalmente no Culto dos Mortos.


Referências:

SCHIMITT, Jean-Claude, Os Vivos e os Mortos na Sociedade Medieval - Companhia das Letras - São Paulo - S.P.

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